A TORRE ANTIGA DA FORTALEZA
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A Torre é mais conhecida como um inesperado abalo ou choque profundo que destrói as estruturas conhecidas. Porém, para que isso ocorra, antes foi necessário que o herói (heroína) a construísse. Afinal, não há como cair, se antes não tivermos nos alçado ao alto, e toda subida tem em si a potencialidade da queda, algo sobre o que raramente ponderamos antes de correr em direção “aos céus”.
Para mim ela não necessariamente prenuncia o abalo, mas sim aparece para ensinar que, se insistirmos em permanecer fechados no nosso mundinho construído, o abalo será inexorável, essencial ao despertar. De qualquer forma, ela é uma etapa difícil, pois é mesmo muito complicado despertar para a realidade, se justamente dela nos afastamos deliberadamente, embora nem sempre conscientemente. E, em grande parte das vezes, só o choque ou a dor são capazes de nos tirar de ilusões que parecem tão reais. Nesse momento e somente nesse, é que percebemos, com dor, que nada é eterno…nada é ancorado para sempre…tudo é mutável, tudo são castelos de sonhos ou como diria Cervantes : moinhos de vento…
O que logo chama a atenção na imagem é que tudo foi laboriosamente construído: pedra a pedra, essa vereda foi sendo assentada; tijolo a tijolo, cada parede da torre subiu em direção ao céu, como se quisesse dominar o infinito ou alcançar a Deus. E, lá em cima, uma guarita ou sala – de onde deveria ser possível manter algum contato com o mundo aqui fora. Quem aí se fecha fica desconectado da realidade.
Parece ser que quem a construiu planejou tudo em detalhes e, uma vez pronta, aí se encerrou, como se não houvesse mais nada a fazer ou a descobrir. É uma representação de que seu autor presume saber tudo o que há para saber, por isso fecha-se em suas pretensas verdades, inflexíveis e imutáveis.
No entanto, um isolamento originado por esse autocentrismo, por essa ausência de interação e de dinâmica, automaticamente condena o herói a devorar-se para sobreviver e, portanto, fatalmente acelera ou aciona o germe de seu próprio fim.
Essa torre fala dos alicerces que assentamos ao longo da vida, quando consideramos algum princípio ou parâmetro como verdade cabal e a isso nos apegamos sem deixar margem à possibilidade de trocá-lo por algo mais adequado ao momento presente.
A vida é movimento e, se nos tornamos indisponíveis para a revisão de nossos mandamentos internos, no fundo apenas estagnamos.
Autonomia, certeza dos próprios princípios e mesmo iluminação, são conquistas e descobertas pessoais. Se insistirmos em que isso deve ser a única verdade, indiscutível e fechada para todos, torna-se apenas tirania, prepotência e, na verdade, loucura. Quando isso acontece, o mistério que rege a vida na Terra automaticamente age, derrubando-nos e trazendo nosso olhar de volta ao chão, ao concreto, à realidade.
O Caminho da Estrela –> O trem passa (e podemos imaginar que vários passaram e muitos continuarão passando, mesmo depois que ela embarcar), enquanto a mulher espera o que a levará ao seu destino. Ao invés de ansiosamente olhar o trem ou angustiar-se por não ser “o seu”, ela, tranquila, lê; ocupa-se com algo de seu interesse, enquanto aguarda.
A linha amarela é um alerta: enquanto o trem não estiver parado, mantenha distância.
O que faz com que ela possa manter-se tranquila parece ser a certeza de duas coisas: 1 – ele virá; 2 – ela chegará aonde quer ir no tempo certo.
Para mim, isso é o mesmo que dizer que ela tem fé. No fundo, fé não é acreditar em algo que outros dizem, especialmente quando eventualmente contraria nossa própria razão. Fé tampouco é aceitar ideias que vem de experiências alheias e nem mesmo apenas ter certeza, mas, antes, sentir profundamente uma certeza particular. Fé, na verdade, é uma conquista pessoal.
Quando acreditamos intensamente em algo, na verdade já estamos vibrando nessa direção, como se algo em nós percebesse ser capaz de projetar, no concreto, essa realidade interna. Esperar tendo essa certeza é ter esperança, como esta carta é conhecida no tarô egípcio.
No entanto, como na imagem, precisamos aprender a compreender o que faz cada momento ou cada evento. O que nos é possível controlar deve ser feito: sair de casa em tempo hábil, vestir-se adequadamente ao clima, levar um livro ou revista para tratar, alimentar ou distrair terapeuticamente a mente, saber com clareza o lugar ao qual queremos ir. Então, temos apenas que esperar que as condições que não podemos controlar sejam convergentes e condizentes com nosso objetivo, trazendo o trem certo ao nosso propósito, o “nosso” trem. Mas, justamente, porque sua vinda não depende unicamente da nossa vontade, temos que compreender que talvez venha cheio demais e isso nos obrigue a esperar por outro, ou pode ser que se atrase um pouco. Portanto, temos que considerar a possibilidade de que, uma vez que aconteça, ainda assim nem sempre será exatamente como imaginamos.
Assim vejo o caminho d’A Lua: a princípio, um tanto assustador, tanto pela presença de plantas estranhas, quanto pela dificuldade de enxergar claramente. Ao mesmo tempo, é inegável seu poder de atração. Podemos ter até mesmo a sensação de que, ao passear por ali, seremos envolvidos e realçados pela magia contida no misterioso.
Este arcano abrange nosso inconsciente que, justamente por ser em geral tão rejeitado, torna-se mais e mais um lugar interno sombrio e atemorizante. Aí residem nossas fantasias, temores antigos, desejos secretos, sonhos esquecidos, anseios negligenciados. Caminhar por aqui demanda alguma coragem, sem dúvida, mas exige, antes, o desejo genuíno de saber quem somos em níveis mais profundos, o desejo do auto conhecimento. No entanto, sendo o limiar entre loucura e lucidez tão tênue, há sempre o risco de nos perdermos no aconchego do imaginário e entendermos a ilusão como garantia de poder.
Aqui encontramos o lírico e o poético que tornam a vida mais bela. Porém, se estivermos despreparados, isso nos parecerá superior à realidade, quando na verdade apenas a complementa e não pode, portanto, a ela sobrepor-se.
Por tudo isso se diz que esta carta fala de romance, aventura, perigos, ciúme ou loucura, poder e desafios. Mas, quando nesse universo adentramos bem centrados, as descobertas que ele nos possibilita enriquecem imensamente nosso caminhar diário.
Adaptado: El Tarot Luminar
By Rosi Guimarães